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O inverno era sempre bem frio e rigoroso onde eu morava, quando isso
aconteceu.
As noites eram escuras feito piche e o vento era forte e incansável.
Nós nos mudamos bastante. O meu pai trabalhava em uma multinacional que vivia
transferindo ele de cidade para cidade.
Para começar, a casa onde morávamos, por um breve período, era bem grande.
Nós
éramos apenas 4, meu pai, minha mãe, meu irmão mais novo e eu.
Eu tinha 16 e
estava louca para completar 17 e o meu irmão estava com 14 anos.
Ninguém
realmente sabia da história da nossa casa, então os meus pais não tinham motivo
para não se mudar para lá.
Algo que eu quero falar sobre a nossa casa, é sobre um
corredor que tinha lá, bem comprido e estreito com várias portas, levando aos
banheiros e quartos.
De noite aquele corredor era o lugar mais intimidador
daquela casa
De noite quando tinha que passar por ele, eu sempre passava correndo para o meu quarto, que ficava no fim do
corredor.
Naquela noite, a qual irei sempre me lembrar, os meus pais foram jantar fora e o
meu irmão foi dormir cedo, já que estava doente e com febre.
Eu estava na
cozinha preparando a minha sobremesa favorita, sorvete de creme completo com
calda, farofa de sorvete e chantili.
Depois eu coloquei todos os pratos na pia e
fui ver TV, comendo o meu sorvete.
Depois que o sorvete acabou eu desliguei a
TV e fui escovar os meus dentes.
Depois de passar pela rotina de "me aprontar
para dormir", misteriosamente eu comecei a sentir um cheiro ruim.
Era um cheiro bem estranho,
como se tivesse algo queimando.
Eu imediatamente corri de volta para a cozinha
para ver se o forno estava ligado, mas estava tudo desligado.
Nada fora do
normal.
Estranho, eu pensei.
Eu simplesmente ignorei o cheiro e fui para a cama
com a barriga cheia de sorvete.
Eu acordei duas horas depois, lá pela meia
noite.
Os meus pais ainda não tinham voltado, o que era normal.
Eu tinha
acordado com o barulho de uma porta batendo.
"O meu irmão idiota", eu pensei.
Então eu
pulei da cama com uma fúria descontrolada para ir gritar com ele para parar de
fazer barulho no meio da noite.
Eu andava rápido como muitas adolescentes
enfurecidas fazem quando não estão de bom humor.
Eu abri a porta do quarto dele
pronta para soltar os cachorros e berrar a plenos pulmões, mas ele estava
dormindo pesado, babando no travesseiro inteiro.
Nesse momento o medo começou a tomar conta de mim, e rapidamente fui para a outra ponta do
corredor e abri a porta que leva ao resto da casa.
A porta tinha a tranca no
meio da maçaneta, um botãozinho que você vira para trancar e destrancar a porta.
Eu abri a porta e passei para a sala.
Então eu senti de novo o cheiro de alguma coisa
queimando.
Foi quando eu senti aquele arrepio na espinha, e os pêlos dos meus
braços arrepiaram, o ar em volta de mim estava gelado.
Eu me perguntei se alguém
tinha deixado uma janela aberta.
Não, a minha mãe nunca abriria uma janela,
ainda mais no meio do inverno.
A minha cabeça virou de repente para o outro lado
da sala quando eu vi alguém entrando na cozinha.
Eu senti um frio no estomago e
uma onda de energia se espalhou pelo meu corpo.
O meu primeiro instinto foi sair
da casa, e rápido, mas eu lembrei que o meu irmão estava dormindo.
Ah não, eu
pensei.
Eu corri de volta para o corredor e fui direto para o quarto do meu
irmão.
Eu agarrei ele e dei um chacoalhão e falei num tom de voz mais alto que
eu conseguia sem fazer muito barulho: "a gente tem que sair daqui, tem alguém na
casa!"
Ele arregalou os olhos e saiu correndo pela porta do quarto dele, e eu
fui logo em seguida.
A gente estava chegando perto da porta do corredor e o meu
irmão deu um encontrão dela e ela escancarou, e depois ele seguiu pela porta da
frente.
Eu estava indo bem atrás dele, mas a porta do corredor bateu bem na
minha frente.
Eu girei a maçaneta para abri-la, mas ela estava trancada!
Os meus
dedos se enroscavam furiosamente para destrancá-la, então eu senti o cheiro de
coisa queimada de novo.
Só que dessa vez estava muito mais forte.
Eu virei e vi
uma pessoa parada na outra ponta do corredor. Pânico.
Ele estava se aproximando
de mim, andando bem devagar.
Só que havia algo de estranho com ele, o corpo
inteiro dele estava coberto por uma crosta negra.
Eu gritei e me concentrei em
destrancar a porta.
Ele ia chegando cada vez mais perto, e o cheiro estava
ficando cada vez mais forte.
Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto
enquanto eu gritava para a porta, rezando para ela destrancar.
Eu gritava o nome
do meu irmão e a figura sinistra estava mais perto agora, a quase três passos de
mim.
Tudo o que eu podia fazer era gritar.
Eu comecei a bater na porta em
pânico. Eu batia e gritava. O homem parou.
Eu achei que estava destinada a
morrer na minha própria casa.
Ele esticou o braço e agarrou o meu ombro. Eu
gritei "NÃO!!!", eu gritei como se a minha vida dependesse daquilo, e até onde
eu sabia, dependia!
Então a porta abriu violentamente, quase me pegando.
Era o
meu irmão.
Ele agarrou o meu braço e me puxou e então saímos correndo sem nunca
olhar para trás.
As minhas costas estavam doendo no local onde o homem tinha me
agarrado.
Era a pior dor que eu já tinha sentido na minha vida toda.
Eu não
parava de chorar e berrava com o meu irmão perguntando porque ele não tinha ido
antes.
Ele falou que assim que ele viu que a porta bateu atrás dele ele voltou
para abri-la e não estava conseguindo.
Ele falou que me ouvia gritar e bater na
porta, mas não conseguia abrir ela.
Quando ele me ouviu gritar "NÃO!!!" ele se
jogou na porta com tudo e só assim conseguiu abrir ela.
Eu não conseguia parar
de chorar.
Eu chorei enquanto ficava na rua esperando os nossos pais.
Eu chorei
quando eles chegaram.
Eu chorei quando a gente foi para um hotel.
Eu chorei o
resto da noite. Eu estava em choque. Aquela foi a pior experiência que eu tive
durante a minha vida toda.
No dia seguinte eu não queria voltar para a casa.
Eu não queria nunca mais
entrar naquela casa.
Nós nos mudamos depois de dois dias do que aconteceu lá e
eu não entrei lá nesse período.
Depois de algum tempo eu descobri que um homem muito rico viveu na nossa casa,
sozinho.
Numa noite de inverno ele acendeu a lareira e acabou dormindo.
Naquela
noite a mangueira de gás do fogão arrebentou, o que causou um incêndio na casa,
matando o homem de um jeito horrível e doloroso.
Depois a família dele reformou
a casa e a vendeu.
Até hoje eu imagino se ele ainda não continua por lá rondando a casa durante o
inverno.
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Elisângela
Blumenau - SC - Brasil |
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