A MALDIÇÃO DOS DEVORADOS VIVOS DE VILA BELA



"Poderia algum poder misterioso amaldiçoar pessoas ou mesmo cidades, provocando acontecimentos fantásticos
e inacreditáveis além da nossa imaginação? "


Os fatos descritos a seguir mostram que isso realmente pode acontecer!

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O texto a seguir é uma transcrição de um manuscrito encontrado no município de Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, em 1931, escrito por um morador que não será identificado.
A veracidade dos fatos pode ser comprovada em arquivos policiais e noticiários à época dos fatos.
Como este manuscrito chegou até mim, será contado abaixo.

Fatos:

  • Vila Bela da Santíssima Trindade [Coordenadas: Latitude / Longitude = 15° 0'21.80"S, 59°56'51.60"W] é uma cidade do estado de Mato Grosso, fronteiriça com a Bolívia e com uma história de mais de 250 anos.
    Foi a primeira capital do Mato Grosso e prosperou até meados de 1835, quando as condições de acesso, doenças e outras dificuldades forçaram os moradores a deixarem a capital, abandonando seus imóveis e pertences, em sua maioria, escravos.

    Porém, a verdadeira história que narra os motivos do abandono da cidade será contada agora.

  • A cidade situa-se na porção do país antigamente pertencente à coroa espanhola, devido ao tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 e que perdurou até a assinatura do tratado de Sacarosas em 1524.
    Porém, até que a coroa portuguesa conseguisse exercer influência sobre a região, inúmeras expedições espanholas percorreram as terras desta cidade.

  • A cidade possui uma forte herança afro-brasileira, onde até os dias de hoje, ainda se encontram comunidades quilombolas, que pouco mudaram desde o abandono da capital em 1835.
  • A inquisição espanhola foi uma das mais sangrentas da idade média, tendo feito milhares de vítimas.
    Como as reformas protestantes ocuparam o cenário religioso europeu após o período das grandes navegações, muitos religiosos optaram por reiniciar suas vidas no novo mundo (as Américas).
    Um deles, O padre João, filho de uma tradicional família que se orgulhava de ter sempre um padre na família.

E aqui começa a história.
Tive a liberdade de transcrevê-la, pois o manuscrito original não resistiria às intempéries do tempo assim como os possíveis manuseios.


ADVIRTO QUE OS FATOS SÃO VERÍDICOS E ACONSELHO ÀQUELES CUJA SUPERTIÇÃO OU CRENÇA SEJAM PRESENTES EM SUAS VIDAS, QUE LEIAM OS FATOS COM CAUTELA.

Por questão de segurança, não irei me identificar, porém, saibam desde já que vivenciei ALGUNS momentos que serão narrados, e que foi tratado pelos sobreviventes à época dos fatos como A MALDIÇÃO DE VILA BELA.

Como já dito, a cidade possui um histórico de mais de 250 anos desde sua fundação. Muitas ruínas fazem parte do cenário da cidade, que contrasta com as belezas naturais. Visando preservar nomes, e até mesmo a veracidade dos fatos, pois caso ainda viva para isso, estou pleiteando a publicação do acontecido em um museu nacional, longe das mãos de fanáticos religiosos ou aventureiros que tenham sua própria interpretação para os fatos.

Esta é a carta:

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A quem interessar:

Minha família descobrira ouro no velho rio Guaporé, que banha a margem oeste da cidade.
Meu pai sempre foi simples, homem da terra, e que na época, além de ser o novo rico da cidade, também ostentava o título de ser o filho ilegítimo de um velho espanhol que viveu na cidade até o começo do século XX.
Como não cabia à realidade do local, eu fui concluir meus estudos na capital federal, Rio de Janeiro, e só retornei depois de velho, e com a carreira estabelecida.
Meu pai não herdou terras, nem dinheiro do meu suposto avô.
Uma das mulheres que minha mãe dizia ser uma das amantes de meu pai era uma moça fina, filha de espanhóis, nascida no Brasil e criada em Vila Bela.

À época, ambos tinham por volta de 20 anos.
Minha mãe,sempre foi negligenciada, rechaçada, pois deu a luz a um filho que à época, era ilegítimo.
Meu irmão foi fruto do desatino de minha mãe, com 15 anos na época, juntamente com o filho de um fazendeiro, que cultivava cana de açúcar.
Um dia a pretendida deste rapaz, pai de meu irmão, descobriu o afeto que seu prometido mantinha pela minha mãe.
Meu meio irmão ficou sem pai naquele mesmo dia.
O curioso foi que a causa da morte foi das mais estranhas que se tiveram notícias naquele local.
Ao entardecer naquele dia, (dizem que uma sexta-feira) apenas o cavalo do rapaz havia retornado para casa.

Por tratar-se de pessoa influente e rica, uma busca foi empregada já nas primeiras horas da noite.
A lua cheia facilitou bastante as buscas.
O padre João, principal testemunha dos fatos, que somente os confiou a mim em seu leito de morte, disse que quando o sino da catedral badalou anunciando a meia noite de sexta-feira, ouviu-se um grito alto e desesperado vindo da beira do rio.
Quando os capatazes da fazenda chegaram no local, só puderam observar sob a luz da lua e das tochas que iluminavam a meia noite uma sucuri enorme expelindo o corpo do jovem rapaz e adentrando no rio rapidamente.
Nada pode ser feito.

O único médico da cidade, jovem, porém experiente, que também acompanhava as buscas atestou a morte do rapaz naquele momento.
E o mais misterioso de tudo. O grito, alto e agoniado somente poderia ter partido do cadáver ou de alguém que estivesse presente no local naquela hora.
Como a noite estava clara, o feitor da fazenda ordenou uma busca na senzala, e sem sucesso, comprovou que todos os escravos estavam no local.
Quem poderia ter exalado o misterioso grito, então?
Todas as pessoas possíveis e imagináveis estavam presentes naquela noite.
Até mesmo os vizinhos foram questionados e todos tinham respostas convincentes.
Foi então que o impensável começou a povoar a mente da cidade.

Quem mais além da vítima poderia ter soltado tamanho grito?
Seria possível que mesmo após ter sido devorado pelo medonho animal, o pobre fazendeiro ainda estaria vivo?
As respostas assombraram os moradores por semanas.
Até que um mês após a tragédia, em uma noite de lua cheia, clara e límpida, chega à cidade uma família de espanhóis que haviam acabado de comprar uma fazenda.
Estavam em uma carruagem negra, iluminada por lampião.
Os escravos que foram vendidos junto com a propriedade presenciaram quatro pessoas descendo da carruagem.
Notoriamente 3 mulheres e o cocheiro que iluminava o caminho com um lampião.

Logo a população começou a nutrir curiosidade pelas 3 mulheres, que curiosamente, não saíam da casa.
Apenas uma mucama, conhecida como Maria das Dores, tinha acesso ao interior da casa grande.
Nenhum outro cidadão ou escravo tinha acesso às mulheres.
Foi quando em uma noite qualquer, após ser pressionado e cobrado pela população, o padre João foi até a casa das mulheres misteriosas se apresentar e conhecer a nova família que acabara de se mudar.
É claro, acompanhado de algumas beatas, de acordo com a história que contam.
Segundo o padre, as mulheres não o receberam.
As velas que estavam acesas, logo foram apagadas.
Ouviam-se passos, mas os vitrais da casa adornados por cortinas não permitiam enxergar o interior.

Pressionado pela população, e sem ter respostas para a curiosidade que só aumentava, um conselho formado pelos moradores da cidade, liderado por fazendeiros poderosos e influentes e o próprio padre João, logo decidiram inquirir Maria das Dores, a única pessoa que tinha acesso à casa.
Como Maria das Dores era uma escrava velha, respeitada por todos, o comprador da fazenda assinou juntamente com a escritura sua carta de alforria.
Maria era livre, e como escrava liberta e leal, não atendeu aos anseios da comunidade de revelar quais mistérios ocultavam-se naquela casa.
Logo, Maria foi declarada feiticeira pela igreja católica e acusada de bruxaria, juntamente com as moradoras da casa misteriosa.
A ex-escrava foi excomungada e proibida de frequentar a igreja.

O desgosto e humilhação vividos por Maria Das Dores foi tanto, que ela morreu pouco dias depois, de causas naturais.
Como ela havia sido acusada de bruxaria, coube à sua ama, uma das moradoras misteriosas da casa cuidar do enterro de Maria das Dores.
Por intermédio de Sebastião, filho da ex-escrava, tudo foi encomendado da melhor forma possível.
Caixão, flores, inclusive o vestido que vestiu Maria das Dores em seu caixão foi comprado especialmente para ela, linho nobre, branco.
Nem mesmo as senhoras distintas e religiosas falecidas na cidade tiveram um enterro tão suntuoso.
Porém, o corpo da ex-escrava não pôde ser enterrado no cemitério local.
Foi então que uma das mulheres, pela primeira vez em meses saiu em público, e exigiu que Das Dores fosse sepultada na sala de estar da casa onde viviam.

A exigência foi cumprida.
O próprio filho de Maria das Dores cavou a sepultura, e a enterrou, tendo como testemunhas as 3 mulheres proprietárias da casa grande.
Naquela mesma noite, uma tempestade assolou a cidade.
As terras da casa grande onde Maria foi sepultada foram destruídas.
Os escravos fugiram da senzala e as plantações, foram perdidas.
Todos viram os fatos como um ato divino que só confirmou as suspeitas de que aquelas mulheres eram feiticeiras.
Como consequência do dilúvio, o rio que banha a cidade transbordou.
Nos dias seguintes, o pior cenário imaginável se implantou na cidade.

Os bebês misteriosamente começaram a desaparecer.
Até mesmo o exército imperial compareceu na cidade, sem nada constatar.
Dias, meses se passaram sem respostas.
Os filhos dos senhores de terras desapareciam como se tragados pela terra.
Bebêes recém-nascidos, ou que já começaram a dar os primeiros passos desapareceram.
Novamente, as três mulheres foram acusadas pelos desaparecimentos.
Porém, desta vez, a violência foi mais brutal que a simples excomunhão das mulheres.

Uma multidão se aglomerou em frente o casarão.
Depois de acusarem as mulheres de bruxaria, o padre ordenou que ateassem fogo na casa.
Sem saída, as mulheres arderam em chamas, sendo que muitos juram que ouviram as três amaldiçoarem aquela cidade em seus últimos momentos de dor e agonia.
Após a atrocidade, a cidade presenciou a maior de suas maldições, e confirmou que o mal espreitava aquelas terras.
Curiosos entraram nas ruínas do casarão, em busca de objetos de valores e ficaram aterrorizados com o que viram.
Aquela noite foi tão marcante que contribuiu para a migração da população para outra cidade, despovoando o local.
Somente os ex-escravos e pessoas sem condições financeiras permaneceram ali.

Dentre as ruínas, havia em volta do túmulo de Maria das Dores as três mulheres mortas de mãos dadas e aos pés de cada uma havia inúmeros filhotes de sucuris com os bebês desaparecidos em seus ventres.
O fogo paralisou este momento, e a cena demoníaca pôde ser presenciada por todos que se atreviam a entrar na casa para confirmar as mortes ou identificar seus filhos.
O padre João morreu dizendo que as serpentes eram a manifestação do diabo, que veio levar as almas dos inocentes para o inferno, pois seus pais, não eram dignos de felicidade na terra.
E quanto a mim, o padre João me abençoou em seu leito de morte, mas disse que eu não seria poupado, pois assim como os demais devorados pelas anacondas do inferno, eu também experimentaria o mesmo destino, pois o padre me disse: "sou seu legítimo pai" e quando morreres irá gritar dentro da barriga da besta, como gritou o primeiro amaldiçoado.


            Vila Bela da Santíssima Trindade/MT, 12 de agosto de 1931.

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Esta carta foi encontrada nas mãos de um homem que havia acabado de ser localizado, morto por um ataque de sucuri.
E eu sou o médico que o retirou do ventre daquele animal e atestou a causa da morte.
Como descobrimos o cadáver?
Gritos horripilantes nos levaram até o local ermo e isolado.
Mas a vítima já estava morta ha vários minutos, senão, há horas.

 

 

 

Colaboração de
André Barbosa - Brasil
Contato:
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